«Convém amar os pobres com um afecto especial, vendo neles a pessoa do próprio Cristo, e dando-lhes a importância que Ele mesmo dava» São Vicente de Paulo

quarta-feira, 24 de março de 2010

Comunicação Tem Remédio: A Comunicação nas Relações Interpessoais em Saúde


Maria Paes da Silva, São Paulo, Ed. Gente 6º edição 1996

* Paulo André Céo Rosa - 2001
1) Introdução
Somos por excelência seres de comunicação. No encontro comunicativo com os outros, nós descobrimos quem somos, nos compreendemos, crescemos em humanidade, mudamos para melhor e nos tornamos fator de transformação da realidade em que vivemos. Isso significa, simplesmente, viver em estado de graça, com paixão pelas pessoas e pela vida.
A comunicação não se constitui apenas na palavra verbalizada. Temos de aprender a ser artistas, no sentido de captar as mensagens, interpretá-las adequadamente e potencializá-las criativamente. É o tesouro da linguagem verbal e não verbal que precisa ser descoberto e lapidado.

2) Comunicação interpessoal
"É impossível não se comunicar: Ativamente ou inativamente, palavras ou silêncio, tudo possui um valor de mensagem".
A comunicação interpessoal ocorre no contexto da interação face a face. Entre os aspectos envolvidos nesse processo, estão as tentativas de compreender o outro comunicador e de se fazer compreendido. Nesse processo, incluem-se ainda a percepção da pessoa, a possibilidade de conflitos (que pode ser intensificado ou reduzido pela comunicação) e de persuasão (indução a mudança de valores e comportamento).
A percepção pessoal funciona como uma espécie de filtragem que condiciona a mensagem segundo a própria lente. Ouvimos e vemos conforme a nossa percepção. Assim, um indivíduo não pode não comunicar.
Podemos dizer, então, que comunicar é o processo de transmitir e receber mensagens por meio de signos, sejam ele símbolos ou sinais.
Signos, são estímulos que transmitem uma mensagem; qualquer coisa que faça referência a outra coisa ou idéia. São convencionais e arbitrários.
Símbolos, são signos que têm uma única decodificação possível.
Sinais, são signos que têm mais de um significado.
As finalidades básicas da comunicação são entender o mundo, relacionar-se com os outros e transformar a si mesmo e a realidade. A comunicação é, antes de mais nada, um ato criativo.

3) Tipos de comunicação
Comunicação verbal, refere-se às palavras por meio da fala ou escritas.
Comunicação não-verbal, não está associada às palavras e ocorre por meio de gestos, silêncio, expressões faciais, postura corporal etc.
Sabemos que na interação face a face o códigos de comunicação são auditivos e, também, visíveis e sensíveis. Comunicamo-nos com a linguagem verbal, ou seja, com os sons emitidos pelo aparelho fonador e com o corpo todo, inclusive com os objetos e adornos utilizados.
Estudos feitos sobre a comunicação não-vebal estimam que apenas 7% dos pensamentos (das intenções) são transmitidos por palavras, 38% são transmitido por sinais paralingüísticos (entonação de voz, velocidade com que as palavras são ditas) e 55% pelos sinais do corpo.
A nossa dificuldade é aprender como o silêncio pode ser terapêutico e nos proporciona a possibilidade de exercitar mais a faculdade de observação, principalmente no que diz respeito aos sinais não-verbais. Diz um provérbio indiano, que quando pensarmos em falar algo, cuidar para que nossas palavras tenham maior valor que o nosso silêncio.

4) A linguagem do corpo: cinésica
"Erguemos a sobrancelha por incredulidade. Esfregamos o nariz por atrapalhação. Cruzamos os braços para nos proteger. Encolhemos os ombros por indiferença, piscamos os olhos por intimidade, batemos os dedos por impaciência, batemos na testa por esquecimento."
Pressupostos básicos para a compreensão da cinésica:

1. Nenhum movimento ou expressão corporal é destituída de significado no contexto em que se apresenta.
2. A postura corporal, o movimento e a expressão facial são padronizados, ou seja, culturalmente determinados.
Normalmente, é pela cultura que se identificam determinadas mensagens. Por exemplo, quando um árabe arrota à mesa, significa que sentiu prazer pela comida ingerida.
3. A atividade corporal visível, assim como a atividade fonética audível influenciam o comportamento dos outros membros de um grupo. É a sincronia da comunicação, ou seja, uma exerce influência sobre a outra.
4. Determinado comportamento, ou seja, a atividade corporal visível, encerra significados socialmente reconhecidos e válidos. Os sinais identificados pela pessoa são igualmente captados por seu grupo. Por exemplo, em um velório existe um comportamento cultural esperado por partes das pessoas presentes.

Categorias gestuais básicas
Podemos classificar os gestos humanos em cinco categorias:
1. Emblemática; são gestos culturais, aprendidos, e admitem transposição oral direta. O gesto de dar uma banana indica desafio, a figa representa torcida ou esperança.
2. Ilustrados; são gestos aprendidos por imitação. Acompanham a fala, enfatizando a palavra ou a frase como se desenhassem a ação descrita. Quando alguém diz: "pesquei um peixe bem grande!", e o gesto da mão acompanha o bem grande.
3. Regulador; são gestos que regulam e mantêm a comunicação entre duas ou mais pessoas. O meneio positivo da cabeça reforça a continuidade da fala do outro.
4. Manifestação afetivas; são configurações faciais que assinalam estados afetivos. Podem ser consciente ou não.
5. Adaptadores; funcionam como "muletas", isto é, são partes do nosso corpo que usamos para compensar sentimentos como insegurança, ansiedade e tensão. Exemplo: roer unha, mexer no bigode ou adaptadores objetuais, brincar com jóias, cigarro, lápis, etc.

Concluindo
Sabemos que a comunicação não tem conclusão, ela é um eterno evoluir, vale a ressalva ou a consideração de que é difícil se tratar da comunicação não-verbal por meio da comunicação verbal. Isso implica dificuldades, já que a comunicação não-verbal também se realiza fora do alcance da consciência. Um dos objetivos é trazer a consciência essa linguagem silenciosa.
Termino contando um estória: Um monge zen que passou dez anos meditando em sua caverna, procurando descobrir o caminho da verdade. Certa tarde, enquanto orava, um macaco se aproximou.
O monge tentou concentrar-se. O macaco, porém aproximou-se de mansinho e pegou a sandália do monge.
"Macaco danado!", disse o ermitão. "Porque veio perturbar as minhas orações?"
Disse o macaco, "estou com fome".
"Vá embora! Você atrapalha a minha comunicação com Deus!"
Perguntou o macaco, "Como pretende isso, se não consegue comunicar-se com os mais humildes, como eu?"
E o monge, envergonhado, pediu desculpas.

* Paulo André Céo Rosa - 2001

Nenhum comentário: